segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Uma noite de sentimentos!









Perante um auditório repleto de amigos, deu-se início à cerimónia de apresentação do livro de Adelina Santos, "Bocados de mim".
O professor Emanuel Mesquita deu as boas vindas a todos os presentes, congratulando-se e manifestando o prazer e a honra em acolher na nossa escola este acontecimento. Adelina Santos, a Lininha, funcionária da escola desde 1997, foi considerada pelo professor "a voz da escola". 




Falou, seguidamente, o professor João Carlos Brito, editor da obra, que referiu o prazer que sentiu em publicar o livro "Bocados de mim".




Foi a vez do Presidente da União das Freguesias de Foz do Sousa e de Covelo que manifestou a sua alegria em estar presente neste evento pela consideração que a Lininha lhe merece.




Também a Presidente da Direção do Agrupamento interveio, salientando o seu regozijo por poder estar presente neste evento e reforçando a disponibilidade de o Agrupamento acolher outras iniciativas deste tipo.




Finalmente, o poeta Carlos Lacerda, amigo da Lininha, fez a apresentação do livro "Bocados de mim". Lendo, ou dando a ler os poemas da poetisa, Carlos Lacerda delineou o retrato de Adelina Santos. "Silêncio", "Eu sou um livro", Sinto-me", "Rasgo as palavras", "Quem me dera", "Escrevo-me" foram os poemas selecionados que revelaram uma  pessoa que transmite, através da sua escrita, uma mensagem de quem está na vida com "dignidade, simplicidade e verdade".
Carlos Lacerda, poeta e "diseur" de poesia, arrebatou os presentes com a forma vibrante e sentida como leu/recitou as palavras da nossa poetisa.
Foi uma sessão cheia de emoção e sentimento que encheu de alegria todos os presentes.






A noite terminou com um Porto de Honra.











RASGO AS PALAVRAS

Rasgo as palavras num grito mudo,
com o gume diamantino do silêncio,
estilete cristalino de névoa e lume,
que as corta, separa e une.


Esventrando-as da semente rara e do conteúdo,
num entorno cálido de seda e veludo.

Desfaço-as em gomos de sílabas vãs,
os limbos e os caules,
a polpa das frases, como fossem maçãs.

Entre os dedos, aperto-as, sinto-as a sangrar,
veias jorrando a dor,
sem as puder estancar...
bagos maduros de romãs,
que fervem dentro da pele
nos traços das linhas, nos contornos das letras,
rasgo os sentidos, com o raio furtivo dos cometas...
Nas alamedas das grandes delongas,
onde os corações se perdem no excesso das coisas,
descoso a fímbria da escrita,
o tecido amorfo onde me deito,
com a saudade a ferir o peito...
Rasgo as palavras,
sumo espesso a escorrer amargo doutras bocas,
desfaço-as do invólucro, pedaços de rochas duras,
que parto em bocados, em excessos fervilhando num mosto de loucuras.
Adelina Santos



Eu sou um livro

Eu sou um livro
cansada de tanto esperar
esquecida na prateleira da vida
sonhando ser escolhida,
favorita de alguém,
sentir o calor amoroso de umas mãos a me foliar,
descobrindo quem sou...


Já tenho folhas amarelecidas, de tanto ser esquecidas,
de não serem lidas, nem escritas por ninguém.

as estações do tempo foram passando carregadas de dor, solidão,
emprestando-me os seus lenços de assoar,
secando as lágrimas de cada adeus
no relógio apreçado da despedida ao seu passar.

Minhas páginas já um pouco amarrotadas,
escritas com a pena dos meus nadas,
falam de desamores, desprezo e desdita
desta minha existência lavrada de medo, solidão,
as linhas da minha mão se riscam de desilusão,
em linhas cruzadas do meu destino,
sem rumo neste meu caminho,
estrofes desbotadas, notas desafinadas sem melodia, sem canção

Murcham minhas flores, rosas, tulipas, orquídeas jasmim,
desfolham suas pétalas sequiosas, famintas no meu jardim,
neste livro onde me escrevo,
Me perco e elevo,
nas metáforas dos meus dias,
nas elipses, nas anáforas, acesas sinestesias,
onde me venho falar,
povoando de mim os meus dias.
Sou um livro cheio de nadas,
encadernado com as noites vazias,
gélidas madrugadas,
capas cozidas com trémulos dedos,
pintadas de saudade, onde guardo os meus segredos.
Sim, sou um livro,
com muito para contar,
histórias tão tristes, que fazem chorar,
mas também poemas de amor,
paixões em flor,
esmagadas pelos vendavais do meu terror.
Aqui me desnudo das penas e das máscaras,
dos sorrisos forçados, dos lamentos guardados,
estiletes afiados que me rasgam por dentro,
os sentidos escorrem sangrando num corte cruel,
cinzelando o meu ser,
esse grito aprisionado em mim,
que jorra como lava ardente para o papel.
Sim, eu sou um livro,
maldito, proibido, cheio de defeito,
marcado de marginalização, tão sem graça e arrepiante,
para quem olha, desdém e passa,
mas onde se iluminam pensamentos, se descartam os amantes,
se traçam sonhos, esperanças,
onde ainda bate humanamente um coração.
Adelina Santos

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