Começo lembrando que o exemplo é fundamental. Pais, vocês precisam ler em casa, não só para as crianças, como também fazer leituras de livros do interesse de vocês. A criança só tomará gosto pela leitura por meio de um exemplo, ou seja, ela precisa ver um leitor, alguém que pratica o hábito da leitura. Hoje os pais parecem estar delegando tal função para os professores nas escolas. E sabemos que infelizmente muitos professores não gostam de ler. Portanto, é fundamental que a criança tenha um exemplo em casa. Ora, um garoto que sonha em ser jogador de futebol não cultiva esse sonho porque ouviu alguém falar sobre jogos de futebol, mas antes porque viu alguém jogando. Do mesmo modo, se você quer que seu filho tenha o hábito da leitura, ele precisa ter contacto com um leitor de carne e osso.
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A força do exemplo me faz pensar na imagem mais antiga que levo na memória: meu pai lendo um livro à luz de um abajur no apartamento 13 da alameda Barão de Limeira. É impossível não gostar de livros, ou considerá-los uma tecnologia ultrapassada – como disse um líder das manifestações de rua – , quando se carrega na alma uma imagem tão simples e tão forte para sempre. E agradeço ao meu pai pelo exemplo. Graças ao amor pelos livros, sou um pouco menos burro e ignorante do que poderia ser.
Paulo carregou ao longo da vida a imagem do pai lendo à luz de um abajur e, graças a essa experiência, transformou-se em um grande escritor. Você tem de fazer o mesmo em sua casa: leia para que seu filho se transforme em um amante da leitura. No primeiro parágrafo ele nos apresenta um exemplo simplesmente fantástico: seu filho a fazer todos os gestos de uma prece antes de se alimentar, imitando as ações do pai – o que nos faz lembrar aquele trecho da “Poética” em que Aristóteles diz que o homem tende por natureza a imitar (embora o contexto seja obviamente outro). No dia-a-dia é possível perceber claramente que as crianças tendem a imitar alguma coisa. Portanto, caso você queira que seu filho ame a leitura e tenha o hábito de ler, ele precisará de um exemplo de leitor. E essa responsabilidade é quase que exclusiva dos pais.
Após a leitura, passe então à descrição das cenas presentes no livro. Faça uma descrição detalhada de cada cena. Se o livro traz, por exemplo, uma imagem de crianças se preparando para escovar os dentes, descreva os personagens (um menino e uma menina), as roupas que estão usando (um pijama de tal cor), diga porque estão subindo em um banquinho e o que estão pegando sobre a pia, fale que a água está escorrendo da torneira etc.
Caso seu filho já saiba falar, dê então início ao processo de nomeação. Aponte para uma parte da cena e peça que ele nomeie aquilo para o que você está apontando. Você também pode fazer o contrário: dizer uma palavra e pedir que a criança aponte para aquilo que você nomeou (por exemplo, “onde está o banquinho?”).
Uma segunda etapa é a evocação. Por meio de perguntas, leve a criança a outros episódios que não estão presentes na imagem em questão, mas que provavelmente aconteceram. Por exemplo, no caso da imagem das crianças escovando os dentes, provavelmente elas estavam dormindo antes de entrar no banheiro. Estimule, assim, a criança a imaginar uma cena que, embora não esteja ilustrada na página observada, contribuiu para que aquilo acontecesse. Com isso, você desenvolverá a linguagem evocativa.
Na leitura em voz alta você pode aplicar ainda outra técnica: a dramatização. Para tanto, mude sua entonação ao contar a história e dramatize-a para chamar a atenção da criança. Você pode em um dia usar uma entonação e em outro, uma entonação diferente. Isso é importante porque as crianças tendem a prestar mais atenção a tais aspectos prosódicos do que à realidade semântica do texto. No momento da nomeação, é evidente que você, desejando aumentar o vocabulário da criança, deverá chamar a atenção para o significado das palavras. Contudo, ao mesmo tempo, elas também estão atentas à forma como você lê, de modo que é importante conseguir fazer a dramatização da história.
Quais são os benefícios da leitura em voz alta para as crianças que estão na etapa que antecede a alfabetização? As pesquisas dizem que crianças entre 15 e 18 meses tendem a aprender uma palavra nova a cada sessão de exposição. Ou seja, basta apresentar uma palavra nova uma única vez à criança para que ela a absorva. Veja que fascinante! Isso não se repetirá com tanta força na vida de um indivíduo. Por isso é muito importante aproveitar o potencial que as crianças têm nesse período para memorizar palavras.
Outra questão importante: quando você lê um livro para uma criança, ela tem contacto com um vocabulário muito mais rico do que aquele usado no dia-a-dia – dependendo, é claro, das obras selecionadas. Na conversação quotidiana, durante o jantar ou brincando com seus filhos, você não nomeia tantas coisas quanto no momento da leitura. Com um livro nas mãos você tem a capacidade de nomear aproximadamente 10 vezes mais do que conversando no dia-a-dia com as crianças. Assim, a leitura de livros aumenta o vocabulário muito mais do que a exposição à linguagem oral.
Não tenha receio de escolher obras de escritores clássicos e consagrados. Este ano lemos na escola um livro inteiro da Cecília Meireles chamado “Ou isto ou aquilo”. Distribuí as poesias entre os alunos de 3 a 10 anos e a escola inteira leu o mesmo livro, ficando cada turma com 2 ou 3 poesias. Se a criança tem a capacidade de, por meio de uma única exposição, aprender uma palavra nova, por que não aproveitar esse momento para introduzir um vocabulário riquíssimo? Não tenha receio de ler livros de grandes autores da literatura brasileira por causa de um linguajar que ainda não é adequado para as crianças ou porque contêm palavras que elas ainda não conhecem. Nem tudo o que você lê para uma criança tem de fazer parte da realidade dela! Não tenha receio de ler os clássicos da literatura infantil!
Texto retirado daqui.
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