segunda-feira, 17 de junho de 2019

O que as crianças perdem quando não há ogros, bruxas e princesas nas histórias infantis?

"As narrativas para os pequenos estão mudando; como eles e a sociedade são afetados pelo processo?



O pai, trabalhando / mãe, no lar/ tudo já está em seu posto / tudo já em seu lugar. Não parecem versos com os quais alguém gostaria de educar seus filhos, mas muitos pais que hoje defendem com firmeza os postulados feministas, para não dizer todos, provavelmente elogiaram a autora alguma vez. Sim, certamente todos eles o fizeram, pois a autora não é outra senão Gloria Fuertes, uma poetisa que se caracterizou pela identidade feminista e escreveu essas letras nos anos setenta, no livro El Hada Acamarelada. Cuentos em Verso (A Fada Melosa. Contos em Verso). São os mesmos versos que, curiosamente, faltavam em algumas versões publicadas em 2017, quando se comemorou seu centenário de nascimento. Segundo conta a professora de Educação Primária e Infantil da Universidade Internacional de La Rioja, Concepción María Jiménez, a estrofe não figurava em todas as novas edições, e poucas crianças lerão esses versos.

O caso exposto pela professora universitária dá uma medida de até que ponto existe um temor, uma atitude preventiva em relação ao conteúdo das histórias e — por uma justificável extensão — em relação a toda obra literária destinada às crianças. Para as tenras mentes infantis, as histórias podem se tornar exemplos perversos a imitar, podem ensinar modelos com os quais perpetuem atitudes inadequadas, prejudiciais à sociedade, quase imperdoáveis em casos extremos... Talvez seja assim, talvez não, mas não há dúvida de que as histórias exercem um efeito inegável na ideia da realidade desenvolvida pelas crianças. “São o caminho mais eficaz para responder ao que cada um sente, em que calçamos os sapatos do outro e que nos ajudam não apenas a nos conhecer e nos entender, mas também a reconhecer o mundo”, explica Jiménez.


As histórias devem ser realistas?

Quando você lê ao seu filho Chapeuzinho Vermelho, Cinderela ou Os Três Porquinhos não está apenas transmitindo uma história com a qual a criança se entretém, desfruta e viaja com imaginação. Além disso, e aqui está o mais interessante, você está mostrando a ele “o reflexo da vida, com a crueldade, a inveja, o egoísmo, a coragem, a generosidade e tudo que caracteriza o ser humano”, diz Jiménez. Tudo que é bom e tudo que é mau. “Talvez por isso, nas histórias, os personagens não sejam ambivalentes, isto é, não sejam bons e maus ao mesmo tempo como realmente são os seres humanos, o que ajuda as crianças a compreender mais facilmente a diferença entre a maldade e a bondade” reflete Jiménez.

E assim pensa a professora que as histórias deveriam ser, pois se não mostram a realidade como ela é perdem a capacidade de responder às perguntas que sempre acompanharam o ser humano, aquelas que giram em torno da tristeza, do amor, da inveja... Neste sentido, ela defende com firmeza os contos de fadas e sua linguagem simbólica, e contraria a opinião de que “esse tipo de relato narra histórias simplórias, onde não existem problemas e tudo é idealizado”. Segundo ela, “se olharmos para os contos de Andersen ou dos irmãos Grimm veremos muitas coisas que seriam perversas: bruxas, ogros, atrocidades, crimes... Existe muito drama e muito conflito, algo de que as crianças tendem a gostar”.

Mas o enfoque próprio dos contos tradicionais não costuma ser visto em muitas histórias infantis modernas nas quais, de acordo com Jiménez, “o que encontramos são instruções para administrar as emoções, para controlar os estereótipos e os gêneros, e para trabalhar os valores, quando, na verdade, o conto é algo íntimo, que cada pessoa interpreta de seu próprio interior”. A professora diz que direcionar esses sentimentos através da literatura é como fornecer uma receita para a vida. De acordo com ela, e por muito boas intenções que se tenham ao fazê-lo, algumas das histórias que se contam agora tratam sobre como devemos instruir a criança para que veja a vida de “forma bonita”, ou seja, como um lugar onde não existem decepções, conflitos ou dor: “Uma mentira que faz parte dessa nova política de não incomodar. Uma tarefa que fazem suprimindo o que é característico do conto tradicional, a transgressão, o simbolismo, a emoção, a ambiguidade...”

Uma maneira de entender que os outros pensam diferente

Além de mostrar à criança como é o mundo que a rodeia, cada história encerra uma mensagem única, “de forma simbólica, ensina a criança como lidar com as vicissitudes do dia a dia, aliviar os medos e enfrentar as ansiedades que certas incertezas podem provocar”, diz a professora. Neste caso é preciso levar em conta que o ensinamento que cada criança tira não é sempre o mesmo, pois cada um interpreta a história à sua maneira.

“O cérebro de cada criança se forma a partir de suas próprias experiências, mas também observando os exemplos da vida dos adultos, assim como as histórias que lhe contam. Estas têm um peso muito importante, embora não chegue a ser determinante”, esclarece Moisés de la Serna, doutor em Psicologia, escritor e mestre em Neurociência. Outra função que a Neurologia atribui às histórias é ajudar a criança a entender as dimensões do tempo e do espaço. Através da estrutura sequencial do relato, o cérebro cria lembranças que registra em ordem cronológica, o que, em última instância, pressupõe a existência de um passado, um presente e um futuro. É uma estrutura simples, mas básica para a vida social.

Segundo de la Serna, as histórias oferecem outra qualidade interessante para o desenvolvimento emocional das crianças. O especialista vê nesse tipo de histórias “uma maneira de aprender a entender que os outros podem ter diferentes formas de pensar, intenções e motivações”. Assim, o psicólogo diz que “a criança aumenta suas habilidades sociais desenvolvendo o que é conhecido como teoria da mente, isto é, a capacidade de saber que os outros têm pensamentos diferentes dos que ela tem”. Muito próxima dessa ideia, a professora Jiménez relaciona outra capacidade mais com a leitura de histórias, a de ensinar a se colocar na pele do outro (algo que nem sempre é benéfico), “essa empatia tão necessária em nossos dias”. Todas essas qualidades podem ser encontradas em maior ou menor grau nas histórias de todas as épocas, embora seja verdade que com nuances significativas que variam com o momento histórico.

O que existe de ‘tóxico’ nas histórias?

Jiménez descreve uma evolução interessante desse tipo de histórias, com ênfase em alguns aspectos particularmente relevantes. Para começar, temos as “histórias com moral de Perrault, nas quais se percebe a crueldade e há inclusive finais dramáticos. Mais tarde, no século XIX, os irmãos Grimm publicaram essas mesmas histórias suavizando o final para evitar tanta ‘crueldade’. E no século XX, a Disney também transformou várias dessas histórias para levá-las ao cinema”, diz. E as mulheres sabem bem que o cinema nem sempre conta as coisas como são. Finalmente, a especialista acredita que, desde a década passada, muitas dessas histórias primigênias foram manipuladas ou adaptadas para responder a necessidades diferentes, para se adequarem à época atual.

A doutora em Pedagogia, professora da Universidade Rovira i Virgili, escritora e contadora de histórias Maria Concepción Torres acredita que “os elementos do conto tradicional ainda aparecem em muitas narrativas atuais, enquanto muitos deles tentam apresentar situações reais próximas do menino ou da menina, ou do jovem ao qual se dirige a história: suas vivências, suas preocupações... que não são as mesmas de 10 ou 20 anos atrás”. Daí a mudança de enfoque, que desafia a tradição e tem um reflexo tangível fora das páginas das histórias para crianças.

Por exemplo, uma escola em Barcelona decidiu retirar de sua biblioteca Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida, junto com outros 200 títulos (30% dos livros do jardim da infância) por conterem histórias “tóxicas” do ponto de vista de gênero. É uma decisão que convida os pais a considerar se devem ler essas histórias para seus filhos ou se isso ajudaria a perpetuar o machismo na sociedade. Em outras palavras, uma notícia que mostra a enorme importância atribuída aos contos infantis na formação da sociedade.

Mas os contos, como qualquer mensagem, não devem ser tirados do contexto. “As mensagens dessas histórias devem ser situadas no momento de sua criação para poder compreendê-las. Quando as transferimos para a nossa realidade é quando se faz essa análise de estereótipos sexistas”. Torres defende os contos tradicionais e considera que devem continuar sendo transmitidos para poder contrastar a história com a realidade e, assim, gerar um pensamento crítico. E isso, ironias da literatura, certamente ajuda a ser mais livre no mundo real."

Texto retirado daqui.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Dia D, o desembarque na Normandia

(Clicar sobre a imagem)

"Em 6 de Junho de 1944, as tropas aliadas desembarcavam no norte de França iniciando a operação militar decisiva para a vitória dos aliados e para o fim da II.ª Guerra Mundial.
Quase 200 mil soldados aliados e milhares de navios de guerra atravessaram o canal da mancha para defrontar a “Muralha do Atlântico”, a linha da defesa erguida pelos alemães no norte de França.

Os aliados sofreram mais de 10 mil baixas só no primeiro dia. 70 anos depois, quatro antigos militares, dois pilotos e dois para-quedistas, que estiveram no centro da ação do “Dia mais Longo”, recordam aquele que foi o princípio do fim da II.ª Guerra Mundial."

Retirado daqui.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Concurso de Contadores de Histórias




Mais uma vez, vai acontecer o Concurso "Conta-me uma História", amanhã, dia 14, pelas 10h15, no auditório da nossa escola.

Este ano, temos 17 alunos inscritos, alguns individualmente, outros em pares.
Como de costume, o concurso tem um júri constituído por dois professores e dois alunos.
Se gostas de ouvir histórias, vai até ao auditório!!!

LER OU CONTAR?


Muitas vezes, ou quase sempre, toma-se ler por contar e contar por ler, como sendo sinónimos. Não é assim.  Há algumas diferenças entre ler e contar. Quem no-lo lembra é Aidan Chambers, escritor e pedagogo norte-americano, no livro Queres que te conte um conto? Um guia para narradores e contadores (edição em castelhano, de Banco del Libro, Venezuela).
Vejamos então algumas das diferenças entre a narração de contos e a leitura em voz alta:
Na narração de contos, prevalece a relação entre o narrador e o ouvinte, como se fosse uma conversa, com um sentido e destinatário pessoal, na medida em que quem conta dá algo de si àquele que escuta. Na leitura em voz alta, ao invés, é o livro quem centra e objetiva a experiência. Neste caso, a relação é a de duas pessoas que partilham algo que lhe é externo, o livro. Não se trata de um contador e de um ouvinte olhando-se, mas de um leitor e de um ouvinte, um ao lado do outro, olhando juntos para o livro. Na leitura em voz alta, a comunicação estabelece-se por meio de palavras e de imagens que provêm de alguém que não está presente, o autor, mas que tem algo a dar-nos.
A narração de contos orienta-se para o emocionalmente dramático; a leitura em voz alta para a contemplação reflexiva. A narração inclina-se para o prazer duma diversão; a leitura em voz alta, para o gozo do autorreconhecimento. A narração tende para o cabal, para o grupo exclusivo, limita-se aos que escutam o contador. A leitura em voz alta tende para o mais além, para o grupo inclusivo, cujos poderes se veem ampliados pelo texto e pela linguagem, pelo pensamento de alguém que não está presente. A narração serve para confirmar a cultura; a leitura em voz alta é geradora de cultura.
A narração de contos exige mais do contador, a leitura em voz alta exige mais do ouvinte. A leitura em voz alta é uma comunicação menos direta entre o leitor e o ouvinte, porque, na escrita, o significado é, habitualmente, mais compacto, as frases estão construídas de uma forma mais densa do que na língua falada. Acresce que, na leitura em voz alta, o leitor e o ouvinte devem ver as palavras impressas para que possam captar os múltiplos sentidos. A forma como as palavras se dispõem na página é, não raras vezes, importante para a sua compreensão. Na narração de contos, o contador pode explicar e repetir, abreviar ou ampliar, enfatizar esta ou aquela parte.
Quem lê em voz alta não pode adaptar-se ao ouvinte com tanta liberdade, porque segue um texto autorizado, pelo que explicar ou mudar o texto pode arruinar a experiência de leitura e desqualificar o texto. O ouvinte da leitura em voz alta precisa de mais tempo para assimilar a a mensagem e compreender o que está a ler-se, pelo que a leitura em voz alta deve ser mais lenta e menos teatral. Por outro lado, uma vez que a fonte da leitura em voz alta é um texto visível, aos leitores iniciais pode mostrar-se o livro enquanto escutam.
Posto isto, importa realçar que ler e contar, apesar de não serem sinónimos nem  equivalentes, podem coexistir, em momentos distintos, no trabalho de educação literária e de fruição da literatura. Ambos os modos reclamam um tempo exigente de preparação, uma cuidada e adequada seleção de textos / contos e uma grande entrega pessoal para que a audição de textos (contada ou lida) seja uma mais valia para a vida dos pequenos leitores. (JMR)

Texto retirado daqui.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Camões é um símbolo nacional. Porquê?

10 de junho é o Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas. É neste dia que se celebra o dia do nosso maior poeta: Luís de Camões, o cantor da gesta portuguesa, do amor, da desventura.

(Clicar na imagem)
"Inspirado num passado glorioso, Camões busca a identidade de um povo nos Lusíadas. Quem somos, o que nos define, que missão temos na História? No épico texto, o poeta exalta os feitos sem ocultar defeitos. Com ele fazemos uma viagem coletiva de reflexão.
Foi muito depois da sua publicação, em 1572, que “Os Lusíadas” começaram a ser lidos e o poema ganhou estatuto incontestado de obra nacional. Através da epopeia de Vasco da Gama à Índia, Camões transporta-nos numa viagem coletiva de reencontro com um passado de glórias para inspirar um tempo futuro. A narrativa da aventura das descobertas, da abertura ao conhecimento, ao mundo e à modernidade, convida a uma meditação profunda sobre o espírito de um povo: heróis do mar ou marinheiros de naufrágios?

São algumas as questões que esta obra coloca sobre a identidade de Portugal, como refere Maria Vitalina Leal de Matos no vídeo que aqui mostramos. A professora catedrática, agora jubilada da Faculdade de Letras de Lisboa, onde lecionou Estudos Camonianos, começa por responder à pergunta lançada no título do artigo: “Porque razão é Camões um símbolo nacional?”"

Retirado daqui

terça-feira, 4 de junho de 2019

E os livros mais fixes são...

 Realizou-se na Fundação Caloustre Gulbenkian, em Lisboa, no dia 31 de maio, a festa da iniciativa "Miúdos a Votos: quais os livros mais fixes?"

Assim, o grande vencedor do 1.º ciclo foi o «Não Abras Este Livro», de Andy Lee. No segundo lugar ficou o livro «O Diário de um Banana 1», de Jeff Kinney e em terceiro lugar ficou «O Cuquedo», de Clara Cunha.


No 2.º ciclo, três autores britânicos saíram vencedores: «Avozinha Gângster», de David Walliams, é o vencedor,  «Harry Potter e a Pedra Filosofal», de J. K. Rowling, ficou em segundo lugar e «Harry Potter e a Câmara dos Segredos», da mesma autora, ficou em 3º lugar.



No 3º ciclo, o vencedor é o livro «Harry Potter e a Pedra Filosofal», de J. K. Rowling, e em segundo e terceiro lugar ficaram duas obras inspiradas em histórias reais: «O Diário de Anne Frank», de Anne Frank e «O Rapaz do Pijama às Riscas», de John Boyne.



No ensino secundário, que participa pela primeira vez no projeto, os vencedores foram «A Culpa é das Estrelas», de John Green, em primeiro lugar seguido de «A Rapariga que Roubava Livros», de Markus Zusak e «O Diário de Anne Frank», de Anne Frank.

O número de participantes foi maior no 1º Ciclo e em todos os ciclos tem aumentado o número de participantes.



segunda-feira, 3 de junho de 2019

A profissão de ilustrador infantil

(Clicar sobre a imagem)
"Pode parecer brincadeira, mas fazer riscos e rabiscos é profissão de gente grande para cativar o olhar dos mais pequenos. O ilustrador infantil dá vida aos enredos mais mirabolantes e inverosímeis. O segredo, está nos desenhos. E na magia também.
É assim como um jogo do gato e do rato, em que as palavras chegam primeiro e depois é preciso caçá-las com desenhos, colorir-lhes a forma. A história não precisa de ter pés nem cabeça, nem os bonecos de obedecer a estereótipos. A única regra que aqui se pede é a de desenhar com paixão e imaginação. Isso fazem bem e há muito tempo Paulo Galindro e Rui Penedo, dois ilustradores portugueses que partilham o gosto de desenhar para crianças.

As ideias só começam a sair do lápis depois da história estar bem sabida, de conhecerem o universo das personagens e trocar impressões com o autor. Da teoria à prática, transformam palavras em imagens, num processo criativo, por vezes atribulado, que normalmente começa por ser desenhado à mão e a carvão. Mas também há canetas de feltro (e muitas!), lápis de cor, cartolinas, materiais diversos que servem estilos diferentes. O passo seguinte será fotografar, digitalizar ou colocar o desenho no computador para lhe dar os últimos retoques.

Galindro tem dificuldade em eleger uma técnica, olha sempre para ” um livro novo como um desafio”. Já Penedo, trabalha os desenhos no computador, para os redimensionar e retocar, se necessário for. Vamos ouvir os dois ilustradores falar sobre esta profissão de desenhar livros infantis."

Retirado daqui.