"Já há inúmeros sites, aplicações, planos europeus, códigos de boas práticas, projectos jornalísticos e estratégias que ajudam o leitor mais prevenido a identificar fake news. Apesar disso, elas continuam a surgir como cogumelos e a espalhar-se, sobretudo nas redes sociais, sem contraditório e sem verificação dos factos. Muitas vezes, socorrem-se até de fotos verdadeiras, para permitirem que se instale a dúvida.
Uma da fake news mais divertidas (talvez não para os próprios) que se tornou viral recentemente foi a do suposto casamento entre duas personalidades da política, ela portuguesa, ele grego. Uma fotografia de 2015, em que os dois apareciam juntos e alegres (o que é diferente de felizes), foi recuperada para dar credibilidade ao título. A suposta notícia já circula há vários anos, também ela, mas foi recuperada nos últimos dias e republicada pelo menos três vezes. Numa delas, teve mais de 77 mil interacções, noutra teve mais de 39 mil e na terceira teve 34.646, o que é francamente bom em termos de abrangência. Quem nos dera que todas as notícias dos sites jornalísticos se espalhassem com a mesma virulência.
Grande parte dos utilizadores das redes sociais optou por partilhar a informação sem ler mais do que o título. Era simples, directo, sugestivo, valia por si próprio, não precisava de explicação. Mas essa é a primeira regra para separar o trigo do joio: ler mais do que o título. Na verdade, é obrigatório ir ao site que publica a suposta notícia e verificar o contexto (segunda regra). Neste caso concreto, as informações à volta do anúncio do casamento eram tão diversas como: “Governo aumenta salário mínimo para 785 euros no final do mês de Julho de 2017”, “Estado paga cinco mil euros por cada nascimento em 2017” ou “Carta de condução vai poder ser tirada aos 14 anos”.
Aqui chegados, já há qualquer coisa que não bate certo. O salário mínimo aumentava para 785 euros e ninguém mais sabia? O site do PÚBLICO ou de qualquer outro jornal, rádio ou televisão ignorava a notícia? Para descobrir uma fake news também é conveniente ir ao Google para tentar perceber se ela foi publicada por outra entidade diferente daquele site onde a encontrámos ou se é “filha única”, digamos assim. Essa é a terceira regra.
Há outro conselho, o quarto, que pode parecer básico, mas que ajuda a separar a boa informação da desinformação: ler o conteúdo até ao fim. No caso concreto da fake news a que me referi no início, seria inédito que a confirmação de um casamento entre duas pessoas de partidos diferentes e de países diferentes fosse feita, em conferência de imprensa, na sede de um dos partidos. Se nada mais nos fizesse desconfiar, ler isto no terceiro parágrafo devia ser suficiente para levantar a dúvida.
Neste caso, os indicadores de que algo não batia certo eram mais do que muitos, mas ainda podíamos fazer upload da fotografia no Google Images (quinta regra) para perceber se era recente ou antiga ou se tinha sido tirada numa ocasião concreta. Em muitos casos, essa estratégia não clarifica coisa nenhuma porque nem sempre a foto utilizada numa notícia é exactamente do dia em que ela é publicada. Por exemplo, se quisermos informar que Miguel Albuquerque vai a Belém queixar-se do Governo da República, como já aconteceu, é natural que se use uma imagem de uma ocasião anterior.
Os ingleses chama-lhe fake news (notícias falsas) num termo que nem sequer considero bem conseguido. Incomoda-me o facto de estar lá escrito “news” (notícia). Prefiro o termo francês: infox, que nasce da contracção das palavras “informação” e “tóxica”. Se a infox não passar no teste dos cinco conselhos, só há uma coisa a fazer: não partilhar."
(Artigo retirado daqui)
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