Os senhores da Revolução, os capitães de Abril
O país viveu 48 anos em ditadura até que o dia da liberdade amanheceu com o Movimento das Forças Armadas nas ruas. O Estado Novo caiu e Portugal libertou-se da censura e da opressão. Há homens que ficam para a História.
O rosto mais visível da operação militar. Pragmático e firme. Comandou as tropas revolucionárias de Santarém até Lisboa na madrugada do 25 de Abril. Juntou 240 homens e há uma célebre declaração que lhe é atribuída: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos”.
Cercou os ministérios do Terreiro do Paço e o quartel da Guarda Nacional Republicana, no Carmo, onde estava Marcelo Caetano, o então chefe do Governo, que se rendeu, se demitiu e partiu para o exílio, no Brasil. Nas horas seguintes, era criada a Junta de Salvação Nacional.
Salgueiro Maia era capitão, frequentou a Academia Militar e a Escola Prática de Cavalaria, esteve na linha da frente da Revolução de Abril, a liderar momentos tensos, membro da comissão coordenadora do MFA desde o início. A marcha da coluna militar até ao Carmo é acompanhada por civis, por gente nas ruas, que gritam “Abaixo o fascismo”, “Liberdade! Liberdade!”.
Depois de Abril, retomou a carreira militar e recusou as honras e o protagonismo que o país lhe quis dar. Sempre recordado nas comemorações da Revolução, este ano, a sua vida está no grande ecrã. O filme “Salgueiro Maia – o implicado” acaba de estrear com histórias ainda não contadas sobre este capitão de Abril que morreu em 1992 com apenas 47 anos.
As memórias de Abril apresentam-no como um dos principais impulsionadores do Movimento dos Capitães. Tenente-coronel, fez parte da comissão coordenadora do MFA, é preso nas vésperas da Revolução, transferido para Ponta Delgada, Açores, onde assiste ao golpe militar. Um dos fundadores e atual presidente da Associação 25 de Abril.
Um dos nomes mais conhecidos do grupo dos militares de Abril, um dos homens que elaboraram o plano da Revolução. Sempre ao comando das operações. O estratega, o cérebro, o comandante, com vocação para a tática de artilharia. Morreu em julho do ano passado. Em 1983, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Um homem polémico, candidato à Presidência da República por duas vezes, esteve preso por envolvimento na rede terrorista FP-25. Polémicas à parte, a história apresenta-o como um ícone da Revolução. Ao longo da vida, partilhou, diversas vezes, o que lhe ia na alma naquele Abril de 1974, no golpe que derrubou Marcelo Caetano que estava no Governo (Salazar tinha morrido há cerca de quatro anos). Correu tudo mais ou menos como tinha planeado. “Este povo, que viveu 48 anos sob uma ditadura militar e fascista, merecia mais do que dois milhões de portugueses a viverem em estado de pobreza”, disse, certo dia, à distância da Revolução. Nunca se arrependeu do 25 de Abril, em sua opinião, “o mais notável acontecimento da História contemporânea”. “Sou do 25 de Abril um orgulhoso protagonista”, referiu, em 2011, nas comemorações do dia da Revolução.
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Vídeo - No 25 de abril de 1974 um grupo de militares derrubou a ditadura em Portugal e devolveu a liberdade à população. Num minuto fica a saber como funcionava o Estado Novo e o que aconteceu no dia da revolução.
Na madrugada de 25 abril de 1974, forças militares ocuparam pontos estratégicos em Lisboa e derrubaram a ditadura do Estado Novo, implantada também por militares em 1926. Para mais informações, clica aqui.
Até que se pudesse gritar "Vitória!" no Largo do Carmo, em Lisboa, as voltas e os caminhos que a Revolução tomou foram muitos. Uns previsíveis (e planeados), outros nem tanto. Quando se comemoraram os 25 anos do 25 de abril, em 1999, o ex-jornalista do PÚBLICO Adelino Gomes (um dos repórteres de abril) trabalhou num suplemento, onde para além de uma notável reconstituição dos factos dos dias quentes da Revolução se revelaram os soldados da coluna de Salgueiro Maia que derrubaram a ditadura...
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